Era uma vez uma criança muito pobre,
desfavorecida até ao osso, tiritando por mor do frio assolando inclemente via
brechas do sórdido casebre. Pobre mãe, remexendo aguada sopa na panela negra
nem tição, simples sopinha em ceia de Natal. Às tantas da desolação, a infeliz
criança implorou “Mãe, minha mãe, eu gostava tanto de ter aqui o menino Jesus
connosco nesta noite de consoada”.
A
inconsolada mulher pensou optimista na eventualidade da embaixada celestial
trazer prolixa comitiva de anjos e assessores, mesmo com o invés de receberem longínquas
ajudas de custo, isto porque vindos de tão longa distância, do céu, paredes meias
com o infinito. Regalia de trazerem cabazes de Natal, subsídios, suplementos, repórteres
televisivos a denunciarem a atroz situação de carência, até o cão se configurava
raquítico, sendo agora uma situação até mais susceptível de revolta que a
própria fome de uma criança. Em versão actualizada, a mulher antevia cortejo de
anjos como se fosse banda filarmónica, trombetas em emotiva repercussão, raio
incandescente descendo pela chaminé, o Menino Jesus proclamando singelo “Aqui
estou”.
Posto
isso, decerto apóstolos do serviço ao divino catering, peru assado, comida
melhorada sem ser exuberante, também nas bodas de Caná o milagre de Jesus Cristo
consistiu em transformar água em vinho, a água-pé, nada de champanhe francês.
Afinal,
a pobre mulher recebeu fria informação celestial - O Menino Jesus não podia descer
pela chaminé porque se encontrava em greve.
Em
greve contra o seu Pai, o Senhor do Reino, por causa das injustiças terrenas. Além
das outras.
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