Repudiamos os uxoricidas e quem os apoiar
Nove mulheres mortas por violência doméstica desde o início do ano
Este foi o título do “Observador”,
exemplo do rastilho de notícias, comentários, debates, indignação nacional. O
nosso blogue sugere uma ida às raízes, ou seja, em 1871 um marido matar a
mulher correspondia a uma simples pena comunitária do criminoso varrer as
ruas.
Então,
assim escreveu Eça de Queiroz:
- Um marido matara sua mulher, partira-a aos
pedaços, fora preso, e condenado ... Reparem bem! «E condenado ... a varrer as
ruas de Gouveia!» De modo nenhum queremos limitar os maridos no direito de decepar suas
mulheres. São miudezas domésticas em que não intervimos. Nunca se dirá que as
Farpas se arrojam indiscretamente sobre o seio das famílias. Que os maridos,
quando lhes convenha, para melhor organização do seu interior, partam suas
mulheres aos pedaços - coisa é que nem nos escandaliza, nem nos jubila! Talvez
não imitássemos esse exemplo não por nos parecer fora das atribuições maritais,
mas por se nos afigurar excessivamente trabalhoso o partir aos bocadinhos uma consorte estimada! E entendemos que, quando
um marido se sinta dominado pelo desejo invencível de partir alguma coisa – é
mais simples ir à cozinha trinchar o rosbife, do que à alcova retalhar a
esposa! Não nos espanta também o castigo infligido pelo meritíssimo juiz de
Gouveia. Nós não temos a honra de conhecer Gouveia. O código, é certo, marca
uma pena diversa, não prevendo esse castigo de varrer as ruas de Gouveia – de
resto todo local. Mas quem sabe se não será uma tremenda penalidade – o limpar
as ruas de Gouveia!
O comentário a este excerto da
crónica de Eça de Queiroz é o de que vale mais partilhar este blogue do que
matar a mulher ou a namorada. Dá menos trabalho e não prejudica ninguém. De
certeza absoluta. Partilhar este blogue pode ter pouca graça mas praticar o uxoricídio
não tem mesmo graça nenhuma. É uma desgraça. Começa logo pelo arrevesado de que
quem comete os ditos “crimes de amor”, comete um uxoricídio. Raio de nome. Repudiamos
então os uxoricidas e quem os apoiar.
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