sexta-feira, janeiro 18, 2019

Dia do riso

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Sexta-feira, 18 de Janeiro, os matinais programas televisivos ocuparam graças com a comemoração do dia internacional do riso, ah, ah, ah. Damos a palavra a Eça de Queirós, reconforto do sorriso irónico nas suas crónicas publicadas na “Campanha alegre”, lá para os anos de 1870.  Escreveu o mestre:

            - Nós bem o sabemos: a gargalhada nem é um raciocínio, nem um sentimento; não cria nada, destrói tudo, não responde por coisa alguma. E no entanto é o único comentário do mundo político em Portugal. Um Governo decreta? Gargalhada. Reprime? Gargalhada. Cai? Gargalhada. E sempre esta política, liberal ou opressiva, terá em redor dela, sobre ela, envolvendo-a como a palpitação de asas de uma ave monstruosa, sempre, perpetuamente, vibrante, e cruel - a gargalhada! Política querida, sê o que quiseres, toma todas as atitudes, pensa, ensina, discute, oprime - nós riremos. A tua atmosfera é de chalaça. Tu és filha de um dichote que casou com uma pirueta! Tu és clown! tu és Fajardo! Se viveres, rimos! A oração fúnebre que diremos sobre a tua campa será - Ah! ah! ah! -A nota que a teu respeito se lançará na história será - Ih! ih! ih! A tua recordação entre os homens será - Uh! uh! uh! Oh poder executivo! Oh Sandio Pança! Oh pilhéria! Publicado num mês, esgotado no outro, proibido no seguinte! Oh Pátria! Oh cambalhota!

            No sentido mais prático, ocorre-nos especular quem, na atualidade, terá mais dificuldade em rir, por exemplo, entre outros:

              - Os que ganham o salário mínimo.
            - Os que ganham o salário mínimo e necessitam de arrendar casa.
            - Os que querem acreditar que o país está melhor em termos financeiros.
            - Os que levam a sério os telejornais.
            - Os que confiam que o euromilhões lhes vai resolver os problemas.
            A lista de motivos para viver sisudo não teria fim, pelo que, hoje sexta-feira, dia certo do riso, por exemplo, sobre a farsa do Conselho Nacional do PSD seja permitido o comentário, ah, ah, ah. Ou oh, oh, oh. Talvez uh, uh, uh.

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