Sexta-feira, 18 de Janeiro, os matinais programas televisivos ocuparam
graças com a comemoração do dia internacional do riso, ah, ah, ah. Damos a
palavra a Eça de Queirós, reconforto do sorriso irónico nas suas crónicas
publicadas na “Campanha alegre”, lá para os anos de 1870. Escreveu o mestre:
- Nós bem o sabemos: a gargalhada nem é um raciocínio, nem um
sentimento; não cria nada, destrói tudo, não responde por coisa alguma. E no
entanto é o único comentário do mundo político em Portugal. Um Governo decreta?
Gargalhada. Reprime? Gargalhada. Cai? Gargalhada. E sempre esta política,
liberal ou opressiva, terá em redor dela, sobre ela, envolvendo-a como a
palpitação de asas de uma ave monstruosa, sempre, perpetuamente, vibrante, e cruel
- a gargalhada! Política querida, sê o que quiseres, toma todas as atitudes,
pensa, ensina, discute, oprime - nós riremos. A tua atmosfera é de chalaça. Tu
és filha de um dichote que casou com uma pirueta! Tu és clown! tu és Fajardo!
Se viveres, rimos! A oração fúnebre que diremos sobre a tua campa será - Ah!
ah! ah! -A nota que a teu respeito se lançará na história será - Ih! ih! ih! A
tua recordação entre os homens será - Uh! uh! uh! Oh poder executivo! Oh Sandio
Pança! Oh pilhéria! Publicado num mês, esgotado no outro, proibido no seguinte!
Oh Pátria! Oh cambalhota!
No sentido mais prático,
ocorre-nos especular quem, na atualidade, terá mais dificuldade em rir, por exemplo,
entre outros:
- Os que ganham o salário mínimo.
- Os que ganham o salário mínimo e necessitam
de arrendar casa.
- Os que querem acreditar que o país
está melhor em termos financeiros.
- Os que levam a sério os
telejornais.
- Os que confiam que o euromilhões
lhes vai resolver os problemas.
A lista de motivos para viver sisudo
não teria fim, pelo que, hoje sexta-feira, dia certo do riso, por exemplo,
sobre a farsa do Conselho Nacional do PSD seja permitido o comentário, ah, ah, ah.
Ou oh, oh, oh. Talvez uh, uh, uh.
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