A promoção do livro e da leitura é um dos principais objectivos do Grupo O Contador de Histórias. Com centenas de sessões realizadas para crianças, jovens, adultos e idosos, ao longo dos últimos anos, de norte a sul de Portugal, o grupo tem vindo a desenvolver também acções destinadas a pais e educadores. A "Oficina de sobrevivência para pais contadores de histórias" destina-se a todos aqueles que pretendem aprofundar os seus conhecimentos na área da narração oral, tornando mais animada a "Hora do Conto" feita em casa. As próximas sessões desta oficina decorrem nas seguintes datas e locais:18 de Março - Aveiro, Fábrica Ciência Viva, 11:00; 18 de Março - Aveiro, Fábrica Ciência Viva, 16:00; 22 de Março - Loulé, Biblioteca Municipal Sophia de Mello Breyner, 16:30h; 25 de Março - Cascais, Biblioteca Municipal, 15:30h; 4 de Abril - Lisboa, Loja Fermento, 18:00h; 5 de Abril - Ponta Delgada, 19:30h; 6 de Abril - Ponta Delgada, 19:30h; 7 de Abril - Angra do Heroísmo, 19:30h; 8 de Abril - Angra do Heroísmo, 19:30h; 10 de Abril - Horta, 19:30h; 11 de Abril - Horta, 19:30h; 21 de Abril - Aveiro, Fábrica Ciência Viva, 16:30h; 22 de Abril - Espinho, Biblioteca Municipal, 10:00h; 22 de Abril - Torres Vedras, Biblioteca Municipal, 16:30h; 27 de Abril - Guarda, Instituto Politécnico, 14:00h29 de Abril - Cascais, Biblioteca Municipal, 15:30h; 6 de Maio - Trofa, Centro Cultural, 11:00h20 de Maio - Cantanhede, Biblioteca Municipal, 14:30h; 27 de Maio - Portimão, Biblioteca Municipal, 14:30h; 3 de Junho - Odivelas, Biblioteca Municipal, 10:00. As sessões têm a duração de três horas, durante as quais se apresentam técnicas de dramatização, obras aconselhadas e se dão muitos exemplos práticos do trabalho desenvolvido pelo Grupo O Contador de Histórias. A "Oficina" é dinamizada por Filipe Lopes que colabora com entidades como a Fundação do Gil, o Instituto do Livro, Ass. de Professores de Português, Ass. de Profissionais de Educação e Infância e Comissão de Protecção de Menores, entre outros.
Há pouco mais de um mês, no Diário de Notícias, saiu um trabalho, da jornalista Maria João Caetano e do fotógrafo Rodrigo Cabrita, que acompanharam Filipe Lopes em mais uma oficina realizada em Cascais.
Publicamos esse trabalho.
Diário de Notícias
6 de Fevereiro 2006
Reportagem
Há um ano que O Contador de Histórias organiza sessões de formação para pais e educadores. No sábado, em Cascais, foram 15 os contadores que apareceram para ouvir Filipe Lopes explicar que, mais do que técnica, o importante é ter afecto para dar.
Dicas para sobreviver a uma história ao fim do dia
Daqui a uma semana, o António já deve estar a espernear ao colo da mãe, com aquele chorinho de recém-nascido que tanto pode significar que tem fome como apenas que quer companhia. Susana espera estar preparada para o momento. E, como nada é demais para o seu primeiro filho, decidiu participar, gravidíssima, na “Oficina de sobrevivência para pais contadores de histórias” que se realizou este sábado em Cascais. “Sempre gostei muito de ouvir contar histórias e quero também criar esse gosto no meu filho”, explica a futura mamã. “Mas acho que não tenho muito jeito, por isso vim aqui ouvir os conselhos de quem sabe”.
Filipe Lopes é dos que sabem. Foi um dos fundadores, em 1997 do Grupo O Contador de Histórias, que inicialmente se dedicava a organizar sessões de poesia, depois também a editar livros e, finalmente, entrou na actividade que lhe dá nome. Além das actividades em escolas e bibliotecas, os quatro contadores têm vindo a especializar-se no trabalho com grupos específicos (reclusos, crianças em hospitais, idosos). E há uma ano começaram também a fazer estas sessões para pais. “Neste momento há uma redescoberta da tradição”, explica Filipe Lopes. “Numa sociedade dominada pela televisão e pela Internet, parece que há um gosto especial em redescobrir uma forma mais arcaica de comunicação”.
O problema é que, como Susana, muitos acham que não têm jeito. A esses, Filipe começa por dizer: “Gosto de ouvir histórias, de percebê-las, senti-las. E depois tenho esta vontade irreprimível de as dar aos outros”. Estes são os dois princípios básicos dos contadores: saber ouvir e querer contar. “Mais importante do que ter técnica muito apurada é ter prazer em contar uma história, é a afectividade e a dedicação com que se conta”.Sentados numa sala da Biblioteca de Cascais, são 15 os participantes na formação, na sua maioria educadores e animadores culturais. O António-futuro-pai tira apontamentos num pequeno bloco. Laura traz as dúvidas normais de quem é mãe de um rapaz de quatro anos e anda à procura dos “livros certos”. Lourenço, de 70 anos, tem cinco filhos e 12 netos e está ali para “reaprender” a contar histórias aos mais novos membros da família, que de vez em quando pedem “ò avô, conta-me uma história”. Para a educadora de infância Patrícia esta é já a segunda sessão com O Contador de Histórias. Sem correr o risco de repetição.
“De cada vez que se conta uma história é diferente”, explica Filipe Lopes. Por isso, além do cuidado com a linguagem (“muitas vezes damos às crianças palavras e conceitos demasiado grandes para elas”) e da criteriosa escolha das histórias que se contam (“convém ler os livros antes de os começar a ler aos filhos”), o mais importante diz, é criar um momento mágico e deixar a imaginação voar bem alto. “Fechem os olhos e imaginem o mar”, pede Filipe aos seus contadores. “O meu mar é azul e calmo”. “O meu mar é verde e com ondas”. Serve este exercício para mostrar que de cada vez que iniciamos uma história a dizer “era uma vez o mar, na cabeça de cada ouvinte começa a desenvolver-se um filme diferente”.Na mala de contador, Filipe traz uma rede para caçar as ideias que andam no ar, uma buzina para chamar a atenção dos adultos quando se distraem, um apito para dar sinal de partida, um búzio que nos leva em viagem para outro lugar, vários lápis, um bonequinho sem nome e muitos livros. “Quando eu tinha oito anos, a minha avó contou-me uma história de que ainda hoje me lembro. Era assim: Era uma vez uma velha a quem todos chamavam Ti Miséria…”
Texto Maria João Caetano
Fotos Rodrigo Cabrita
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