quarta-feira, novembro 23, 2005

Loucuras Outonais


No Sábado, dia 12 de Novembro, tive também a honra de participar, mais uma vez, com mais alguns amigos e conhecidos tomarenses nas filmagens de Pedro e Inês, e pela primeira vez entrei nos aposentos do antigo Hospital Milita. Senti um misto de alegria e dor por ver tão belos aposentos e lugar, mas em degradação. Quando os governos e as câmaras não têm capacidade para conservar e desenvolver devem ser dados aos particulares essas possibilidades. Vozes houve que souberam contribuir para o estado lastimoso em que se encontram tais aposentos que bem poderiam hoje fazer parte da primeira Estalagem ecuménica e mística do mundo que foi adiada e que espero alguém ousado pegue de novo na ideia e que os interesses mesquinhos do estado, municípios e particulares sem capacidade de investimento não se sobreponham às reais necessidades e possibilidades que se abrem com a criação de uma estalagem naquele espaço, que não perverte em nada a mundialidade do Monumento, pelo contrário, será uma mais valia para essa mesma dimensão.
Mas o Outono tem coisas belas em termos de cor. Há por vezes no ar forças cósmicas que nos enchem de entusiasmo. O Major (?) Castro, um tertuliano do Tomar: A palavra, mas não do blog com quase o mesmo nome que vai reiniciar as suas sessões, com quem me encontrei no Mercado confidenciou-me que não gostava nada do Outono mas que agora tem no Outono uma estação também de rara beleza. E os tons deste tempo infundem-nos um espírito tolerante tão necessário para os tempos europeus que se avizinham...
Mas é de Gabriel Garcia Marquez que quero partilhar três frases, do livro: Do Amor e outros demónios. Ele escreve a dado passo que “nenhum louco está louco se alguém aceitar as suas razões” e mais adiante e falando de poesia num dos diálogos um personagem Abrenúncio afirma que “quanto mais transparente é a escrita mais a poesia se vê” o que concordo, como também concordo de certo modo com a poetisa Graça Arrimar quando refere que “ a poesia não precisa de ser explicita”, pois não, porque a subtileza é uma dimensão essencial na vida das pessoas que andam de forma tão desmesurada à procura da cura de muitos males só que, como diz Gabriel, “não há remédio que cure o que a felicidade não cura”!
Por vezes as pessoas esquecem-se de que “na velocidade dos acontecimentos da vida só a alegria foca os sentimentos mais belos”, por isso os encantos do Outono só se agarram quando, sem pressa perdemos ganhando alguns minutos na contemplação dos vários belos que a natureza gratuitamente nos oferece.
Este mês e esta estação gera também nos românticos alguma nostalgia e ultimamente, não sei se é pôr estarmos no mês dos Santos, tenho-me recordado de vários conhecidos com quem me dava bem e que Deus os levou para si tornando-lhes a vida mais breve por estas paragens onde alguns teimam em fazer a vida negra a outros sem mais… Recordo com saudade o Serra, o Ricardo Salazar, o Beto e outros que seria fastidioso nomear. Mas estes saltam-me ao caminho memorial, de quando em vez, como se estivessem lá em cima a velar por mim…e já não falo dos que na terra natal também já deixaram de connosco partilharem noites de calor sentados num qualquer murete ou numa fraga de esquina. É a vida…
Mas termino com as palavras de uma poetisa cuja obra conheci recentemente mas que me enche a alma: Maria Luísa Dias Santos que no seu primeiro livro - Amor Mais escreve: Transcendência - “É nas almas cândidas e nuas, que os olhos se repousam”. E em Simbiose – “Na vida tal como nos sonhos, há seres que se querem, que se amam, e mesmo que não se pertençam, jamais se separarão.” Em Náufragos -“Há seres que emergem do nosso subconsciente, sufocando a nossa vontade”. E por fim, em Quimera –“Quisera eu um dia, pôr grilhetes nos meus sonhos. Mas fugiram por entre os dedos e vagueiam por aí”, talvez, digo eu alguém os encontre e seja feliz com eles. Ainda bem.Adorava…
Os Segredos de Tarana
Loucuras Outonais
Por João Sampaio

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