terça-feira, novembro 01, 2005

Terramoto de Lisboa foi há 250 anos


Um dia de escuridão e horror

O Terramoto de 1755 faz exactamente 250 anos a 1 de Novembro. A origem da catástrofe continua a ser um enigma para os cientistas e, por enquanto, só existe algum consenso quanto à localização da principal rotura que a provocou: a Falha Marquês de Pombal. Foi na manhã de um Outono sereno e temperado que tudo aconteceu. Em breve passou a ser um dia de escuridão e horror, com o céu coberto pelo fumo dos incêndios e pelo pó dos edifícios derrubados. Como se os abalos telúricos, as fendas abertas no solo e as chamas não bastassem para provocar a ruína da cidade, o Tejo avançou em ondas de destruição, arrastando à sua passagem pessoas, ruínas, mastros, embarcações inteiras. Lisboa foi a grande vítima do desastre, embora o centro e o sul de Portugal tivessem sofrido grandes perdas humanas e materiais. A antiga cidade medieval, quinhentista, filipina, joanina, foi destruída pela acção combinada dos elementos em fúria a 1 de Novembro e posteriormente arrasada de vez pelos homens de Pombal, que a reconstruíram no seu lugar antigo. Perderam-se dezenas de igrejas, conventos e palácios. Alguns desapareceram para sempre, como o Palácio Real, a Alfândega das Sete Casas, a Patriarcal, a Ópera do Tejo, o Palácio dos Corte-Reais, o Hospital Real de Todos-os-Santos e o (tristemente célebre) Paço dos Estaus, sede da Inquisição de Lisboa, no Rossio. Desse património arquitectónico restam-nos apenas gravuras e imagens retiradas de painéis de azulejo, que aqui reproduzimos a partir da planta da Lisboa anterior a 1755. Apresentamos igualmente uma imagem da famosa maqueta da metrópole pré-Terramoto existente no Museu da Cidade, com os principais edifícios identificados.
Nair Alexandra 12:10 31 Outubro 2005

Um país ameaçado

Depois do desastre de 1 de Novembro de 1755, Lisboa renasceu na construção anti-sísmica. Esta construção, surgida inicialmente na Baixa, é um património que hoje volta a ser ameaçado pelas alterações feitas às estruturas dos edifícios, as chamadas «gaiolas» pombalinas. E pelas fragilidades dos novos tipos de edifícios que se foram sucedendo no tempo, onde as regras anti-sísmicas se começaram a adulterar. De tal maneira que muitos especialistas consideram não estarem nem Lisboa nem outras regiões do país, como o Algarve, preparadas para um grande terramoto. A nossa legislação é das mais avançadas da Europa, mas à sua aplicação depara-se um problema: a falta de fiscalização. E nas obras de reabilitação há um vazio legal, o que permite tudo, desde o uso de materiais inadequados à supressão de paredes e pilares, ou ao corte das barras de madeira dos edifícios «gaioleiros». Por isso, numa simulação do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) feita para o EXPRESSO de um sismo como o de 1755, isto é, com uma magnitude de 8,7 a 9 graus na Escala de Richter, os resultados foram catastróficos, tanto nos danos humanos como nos materiais. Nas regiões de risco mais elevado no continente - a Área Metropolitana de Lisboa e o Algarve - registar-se-iam mais de 25 mil mortos e o colapso de 25 mil edifícios. O Algarve é a região mais vulnerável do país, em particular na época de Verão, onde os cerca de 600 mil turistas se juntam aos 400 mil habitantes da população residente. Como 60 por cento das habitações estão concentradas numa faixa de 2 quilómetros de largura ao longo da costa, um tsunami como o de 1755 poderia pôr em risco 200 mil pessoas e bens equivalentes a metade do PIB da região. Apresentamos aqui uma simulação animada desse tsunami feita pela primeira vez pelo Centro de Geofísica da Faculdade de Ciências de Lisboa.


Não é possível evitar um grande sismo ou um tsunami, mas há medidas de prevenção que estão ao alcance de todos, de modo que cada um saiba o que fazer antes, durante e depois do desastre, como explicamos no guia aqui apresentado, e que o leitor pode imprimir e guardar. Fique a saber também que obras pode desde já realizar na sua casa ou no prédio onde vive para minimizar os danos materiais e humanos.
Virgílio Azevedo 11:10 31 Outubro 2005

Guia para reduzir os efeitos de um sismo e de um tsunami

(segundo o Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil)

ANTES

· Informe-se sobre as causas e os efeitos possíveis de um sismo na sua zona. Fale sobre o assunto de forma tranquila e serena com os seus familiares e amigos.

· Informe-se se a sua residência e o seu local de trabalho se encontram em zonas sísmicas de risco. Se viver junto ao litoral informe-se sobre a que altitude se situa relativamente ao nível do mar, porque pode ser importante em caso de ocorrência de tsunami.

· Elabore um plano de emergência para a sua família. Certifique-se de que todos os seus familiares sabem o que fazer no caso de ocorrer um sismo. Combine previamente um local de reunião para a eventualidade de os membros da família se separarem durante o sismo.

· Prepare a sua casa por forma a facilitar os movimentos em caso se sismo, libertando os corredores e passagens, arrumando móveis e brinquedos, etc...

· Tenha à mão uma lanterna eléctrica, um rádio portátil e pilhas de reserva para ambos, bem como um extintor (verifique o prazo de validade) e um estojo de primeiros socorros.

· Identifique os locais mais seguros distribuindo os seus familiares por eles. Identifique os locais mais perigosos.

· Fixe as estantes, as botijas de gás, os vasos e as floreiras às paredes.

· Coloque os objectos pesados ou de grande volume no chão ou nas estantes mais baixas.

· Ensine a todos os familiares como desligar a electricidade e cortar a água e o gás.

· Armazene água em recipientes de plástico fechados e alimentos enlatados para 2 ou 3 dias. Renove-os de tempos a tempos.

· Tenha à mão medicamentos correntes mais necessários.

· Mantenha a sua vacinação e a de toda a família em dia, nomeadamente contra o tétano. Consulte o seu centro de saúde para obter mais informações.

· Tenha à mão em local acessível números de telefone de serviços de emergência.

· Tenha à mão agasalhos e sapatos resistentes.

Locais mais seguros

· Vãos de portas interiores, de preferência em paredes mestras.

· Cantos das salas.

· De baixo de mesas, de camas e de outras superfícies estáveis.

· Longe das janelas, dos espelhos e das chaminés.

· Fora do alcance de objectos, de candeeiros e de móveis que possam cair.

Locais mais perigosos

· Saídas.

· Junto a janelas, a espelhos e a chaminés.

· Junto a objectos, a candeeiros e a móveis que possam cair.

· No meio das salas.

· Elevadores.


DURANTE

EVITE O PÂNICO. MANTENHA A SERENIDADE E ACALME AS OUTRAS PESSOAS

Se estiver dentro de casa ou dentro de um edifício:

· Se estiver num dos andares superiores de um edifício não se precipite para as escadas. Abrigue-se no vão de uma porta interior, nos cantos das salas ou debaixo de uma mesa ou de uma cama. Nunca utilize elevadores.

· Mantenha-se afastado de janelas, espelhos e chaminés.

· Tenha cuidado com a queda de candeeiros, móveis ou outros objectos.

· Se estiver no rés-do-chão de um edifício e a sua rua for suficientemente larga (por exemplo, mais larga que a altura dos edifícios), saia de casa calmamente e caminhe para um local aberto, sempre pelo meio da rua.

· Vá contando alto e devagar até 50.

Se estiver na rua:

· Dirija-se para um local aberto, com calma e serenidade. Não corra nem ande a vaguear pelas ruas.

· Enquanto durar o sismo não vá para casa.

· Mantenha-se afastado dos edifícios, sobretudo dos velhos, altos ou isolados, dos postes de electricidade e de outros objectos que lhe possam cair em cima.

· Afaste-se de taludes e de muros que possam desabar.

· Vá contando alto e devagar até 50.

Se estiver num local com grande concentração de pessoas (ecola, sala de espectáculos, edifício de escritórios, fábrica, loja, estação ferroviária, etc.):

· Não se precipite para as saídas. As escadas e as portas são pontos que facilmente se enchem de escombros e podem ficar obstruídas por pessoas tentando deixar o edifício.

· Nas fábricas mantenha-se afastado das máquinas, que podem tombar ou deslizar.

· Fique dentro do edifício até o sismo cessar. Saia depois com calma tendo em atenção paredes, chaminés, fios eléctricos, candeeiros e outros objectos que possam cair.

Se estiver a conduzir:

· Pare a viatura longe de edifícios, muros, taludes, postes e cabos de alta tensão e permaneça dentro dela.


DEPOIS

Após os primeiros minutos:

· Mantenha a calma e conte com a ocorrência de possíveis réplicas.

· Não se precipite para escadas ou saídas. Nunca utilize elevadores.

· Não fume nem acenda fósforos ou isqueiros. Pode haver fugas de gás ou curto-circuitos. Utilize lanternas a pilhas.

· Corte a água e o gás e desligue a electricidade.

· Calce sapatos e proteja a cabeça e a cara com um casaco, uma manta, um capacete ou um objecto resistente e prepare agasalhos se o tempo o aconselhar.

· Verifique se há feridos e preste os primeiros socorros se souber. Se houver feridos graves não os remova, a menos que corram perigo.

· Verifique se há incêndios. Tente apagá-los. Se não conseguir alerte os bombeiros.

· Ligue o rádio e cumpra as recomendações que forem difundidas.

· Limpe urgentemente os produtos inflamáveis que tenham sido derramados (álcool, tintas, etc.).

· Se puder, solte os animais domésticos. Eles tratarão de si próprios.

Se estiver junto ao litoral:

· Se viver junto ao litoral e sentir um grande sismo, é possível que nos 20 a 30 minutos seguintes ocorra um tsunami.

· Em caso de suspeita ou de aviso de tsunami desloque-se de imediato para uma zona alta, pelo menos 30 metros acima do nível do mar, e afastada da costa.

· Afaste-se das praias e das margens dos rios. Nunca vá para praias observar um tsunami a aproximar-se. Se conseguir ver a onda significa que está demasiado perto para poder escapar.

· Se estiver numa embarcação dirija-se para alto mar. Um tsunami só é destrutivo junto à costa onde a profundidade das águas é pequena. Uma zona onde a profundidade do mar seja superior a 150 metros pode considerar-se segura.

· À primeira onda podem suceder-se outras igualmente destrutivas. Mantenha-se num local seguro até que as autoridades indiquem que já não existe perigo.

· Regresse a casa só quando as autoridades não o desaconselharem.

Nas horas seguintes:

· Mantenha a calma e cumpra as instruções que a rádio difundir. Esteja preparado para outros abalos (réplicas) que costumam suceder-se ao sismo principal.

· Se encontrar feridos graves, chame as equipas de socorro para promover a sua evacuação.

· Se houver pessoas soterradas, informe as equipas de salvamento. Entretanto, se sem perigo, for capaz de as começar a libertar, tente fazê-lo retirando os escombros um a um. Não se precipite, não agrave a situação dos feridos ou a sua própria.

· Evite passar por onde haja fios eléctricos soltos e tocar em objectos metálicos em contacto com eles.

· Não beba água de recipientes abertos sem antes a ter examinado e filtrado por coador, filtro ou simples pano lavado.

· Coma alguma coisa. Sentir-se-á melhor e mais capaz de ajudar os outros.

· Acalme as crianças e os idosos. São os que mais sofrem com o medo.

· Não utilize o telefone excepto em caso de extrema urgência (feridos graves, fugas de gás, incêndios, etc.).

· Não propague boatos ou notícias não confirmadas.

· Se a sua casa se encontrar muito danificada terá de abandoná-la. Reúna os recipientes com água, alimentos e medicamentos vulgares e especiais (cardíacos, diabéticos, etc.).

· Não reocupe edifícios com grandes estragos, nem se aproxime de estruturas danificadas.

· Corresponda aos apelos que forem divulgados e, se possível, colabore com as equipas de socorro.

· Não circule pelas ruas para observar o que aconteceu. Liberte-as para as viaturas de socorro.
12:00 31 Outubro 2005

1 comentário:

Anabela disse...

Aleluia! Pela primeira vez, leio um texto que se refere ao terramoto de 1755, sem a infeliz frase apensa: "a comemoração dos 250 anos do terramoto de Lisboa".